“O papel da filantropia é exercer alavancas para a educação”, diz Priscila Cruz

By Kaptha | 22 de setembro de 2021

A educação foi o destaque da última edição do Segundou – Agosto da Filantropia, que neste dia 30 foi comandado por Carola Matarazzo, diretora executiva do Bem Maior e recebeu a presidente da Todos Pela Educação, Priscila Cruz. Devido a questões técnicas, Joca Guanaes, que costuma conduzir as entrevistas, foi substituído por Carola.

Priscila destacou a importância da filantropia e explicou como ela pode ser aplicada na educação: “Quando o Todos Pela Educação começou, foi com a visão de que todo mundo realmente precisa se dedicar à educação: setor privado, setor público, imprensa, famílias, comunidades, gestão pública… Estive em países como Chile, Coréia do Sul e Canadá e vi como a sociedade participa da educação em todos eles. Não há conversa fiada com educação nesses países. E os empresários têm uma voz muito forte”.

Para Priscila, no entanto, a gestão pública é insubstituível e ela fez um alerta: “Sou cética e desfavorável a investimentos em determinados setores, que são atribuição do governo. E o setor privado, na ansiedade, acaba substituindo o público”. Para ela, isso cria um “buraco” porque é necessário que se cobre do governo que cumpra suas atribuições. “O papel da filantropia é exercer alavancas’ simultâneas para a educação”, afirmou.

 

Pandemia
A pandemia também foi assunto da conversa e, segundo a convidada, algumas faixas de idade ficarão com a educação prejudicadas, especialmente alunos do ensino médio, que estavam no segundo ou no terceiro ano durante o isolamento. “Esses estudantes são mais prejudicados porque terão menos tempo para correr atrás da aprendizagem perdida. E não é só a aprendizagem de português ou ciências, porque a escola não é apenas para o saber escolar. A escola também é esporte, convivência, diversidade, respeito…”, alertou.

A alfabetização também é outro período que foi seriamente prejudicado, segundo Priscila: “Se não houver cuidado, muitas crianças não conseguirão se alfabetizar remotamente. As escolas então precisam se organizar: o [nível escolar] Fundamental I vai ter que ‘resgatar’ a criança que não foi alfabetizada”.

A atuação do governo federal durante a pandemia foi criticada por Priscila: “A atribuição legal de coordenar o sistema educacional brasileiro é do governo federal, mas ele não cumpriu essa atribuição. Negou, atrapalhou: é uma peça fundamental que não se mexe, então fica um vácuo. Isso prejudicou muito a educação brasileira”.

Para mudar a qualidade da educação, é essencial a valorização do professor, segundo Priscila e, para isso, a mídia tem um papel importante. Segundo a entrevistada, o retrato muitas vezes satírico sobre a figura do professor e da escola, como acontece na escolinha do Professor Raimundo, não é interessante: “Essa representação satírica é diferente do que ocorre no Japão ou na Finlândia, onde o professor tem reconhecimento social. Lá, jamais haveria piadas sobre ele. Essa desvalorização se reflete, por exemplo, no salário do professor. É o profissional mais importante do país. E por que ganha tão menos que os outros?”, questionou.

O Nordeste teve um destaque especial na conversa e foi lembrado como uma região onde há grandes exemplos na área educacional: “Pernambuco é referência nacional no ensino médio. O Ceará tem 81 das cem melhores escolas do Brasil. A capital com melhor qualidade no ensino fundamento no Brasil é Teresina, no Piauí. Na Bahia, a Chapada Diamantina é referência de articulação de forças entre sociedade, escola e vários municípios da região que trabalham juntos pela educação”.

 

Agosto da Filantropia
Em todas as segundas-feiras deste mês, Joca Guanaes conversou com alguém ligado a filantropia no Instagram do Correio: foi o Segundou – Agosto da Filantropia, que o CORREIO realizou em parceria com o Movimento Bem Maior. A diretora da organização, Carola Matarazzo, conduziu as entrevistas junto com Joca.

A série foi aberta com Rodrigo Pipponzi, sócio da Editora Mol, que produz revistas e livros com venda revertida para ONGs. “Precisamos entender que vivemos em sociedade e sociedade não é o outro; sociedade é a gente. Então, o problema não é do outro; não é do governo; não é da empresa nem do rico nem do pobre. O problema é nosso”, disse o convidado.

Nas semanas seguintes, os convidados foram: Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza; Edu Lyra, da Gerando Falcões; Preto Zezé, da Cufa (Central Única das Favelas); Eugênio Mattar, cofundador do Bem Maior, e Priscila Cruz, da Todos pela Educação. Os convidados foram unânimes ao reconhecer que qualquer cidadão pode atuar como filantropo, mesmo que não tenha dinheiro, já que é possível doar, por exemplo, trabalho ou tempo para fazer o bem. Joca Guanaes anunciou que o Segundou especial de filantropia volta em janeiro. Até lá, ele continua apresentando o programa todas as segundas-feiras, às 19h, no Instagram do CORREIO.

 

FONTE: Jornal CORREIO

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